sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Lucho é um líder, mas Belluschi faz falta
Se dermos como verdadeira a tese de que as contratações em Janeiro servem principalmente para emendar erros cometidos no Verão, salta à vista que o FC Porto acaba de fazer um enorme mea culpa com as contratações de Lucho González e Janko – enquanto a chegada de Danilo terá, obrigatória e rapidamente, de servir para corrigir o equívoco em que se tornou a colocação de Maicon na lateral e a gestão dos humores de Fucile e Sapunaru. Mas as correcções criaram pelo menos uma outra situação difícil de entender: que vantagens vai retirar o FC Porto da cedência, ainda por cima por empréstimo (e a custo zero), de Belluschi ao Génova? Aparentemente, nenhuma...
Belluschi foi contratado, em 2009, por cinco milhões de euros ao Olympiakos. Na primeira época, com Jesualdo Ferreira, confirmou o que já se conhecia dele: dotes técnicos excepcionais, mas também alguma renitência na colaboração defensiva. Esta ideia acabou por ser contrariada na época seguinte, já com André Villas-Boas. Belluschi esteve absolutamente imparável na primeira metade da época, período em que provou ser um jogador completo, capaz de criar desequilíbrios na frente, mas também de participar nas ajudas defensivas.
A certa altura, era mesmo um dos jogadores com mais recuperações de bolas. É verdade que a segunda metade da época não lhe correu tão bem. Mas isso aconteceu principalmente por mérito de Guarín, que nesse período final se apresentou, de facto, numa condição física e mental excepcional. Mesmo assim, o argentino continuou a ser um jogador determinante, conseguindo exibições que lhe valeram mesmo o regresso à selecção argentina, da qual andava afastado há muito tempo.

Esta época, Belluschi não passou, naturalmente, incólume às variações de humor de uma equipa que teve de lidar com problemas de vário género. Mesmo assim, acabou por ser um dos que menos acusaram as condições adversas e o mau momento da equipa. Foi, de resto, o médio mais utilizado no somatório das várias provas, a par de João Moutinho, ambos com 27 jogos realizados (Moutinho jogou mais um na Liga dos Campeões, mas menos um na Taça de Portugal). É verdade que, a partir de certa altura, o argentino passou a alternar na titularidade com Defour, mas o belga só leva realizados 21 jogos, tal como Fernando, enquanto o também emprestado Guarín somou apenas 11, menos quatro do que Souza. Ou seja, Belluschi foi sempre um jogador útil e não consta que contribuísse para desestabilizar o balneário, ao contrário de outros.
O empréstimo de Belluschi não pode sequer ser justificado pela cláusula de opção que ficou estabelecida na sua cedência gratuita, porque o Génova só a exercerá se quiser. Mais do que isso, essa cláusula oscila entre os 3,5 e os 5 milhões, em função de o clube italiano se apurar ou não para as provas europeias. Guarín, que tem características distintas mas nunca teve o peso de Belluschi no FC Porto, foi emprestado até ao final da época por 1,5 milhões de euros. E, no final, se o Inter quiser ficar com ele, vai ter de pagar mais 13,5 milhões. Claro que Guarín tem apenas 25 anos, enquanto Belluschi já tem 28. Mas Lucho também já vai nos 31 anos e nem por isso o FC Porto teve de abdicar de receber dois milhões de euros que o Marselha ainda lhe devia para garantir o regresso do El Comandante...
Por outro lado, Belluschi e Lucho González são dois médios de qualidade e que seriam sempre compatíveis e até complementares no mesmo plantel. Salta à vista que o FC Porto só retiraria vantagens de poder contar com ambos. Pode, claro, questionar-se a questão orçamental, que estará na origem da redução do plantel para apenas 23 jogadores. Mas também não é fácil perceber como é que agora só há disponíveis cinco médios para o triângulo no meio-campo, enquanto para as duas vagas nas alas existem seis alternativas possíveis (James Rodriguez, Varela, Hulk, Iturbe, Cristian Rodriguez e Djalma).

As vantagens da contratação de Lucho são evidentes. O argentino, que esta época jogou a generalidade dos jogos do Marselha, é um jogador refinado tecnicamente e de uma rara lucidez, o que lhe dá vantagens até em termos de finalização. Mas nunca foi um jogador muito rotativo, valendo a pena recordar palavras de Jesualdo Ferreira ao jornal O Jogo: “Não é exactamente um jogador explosivo, o que pode tê-lo impedido de chegar a clubes ainda maiores. Mas a inteligência táctica e a facilidade de execução fazem com que valha uns 12 ou 13 golos por temporada”. Resta a dúvida até que ponto a idade já um pouco avançada não irá, no futuro, deixar ainda mais nu a sua principal limitação.
fonte: Desporto Público
Etiquetas: Belluschi, época 2011/12, FC Porto, Génova, Guarin, Lucho González, mercado